sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Produções inéditas de Adriana Carneiro (PE) e Rafael Guarato (MG/GO) marcam lançamento de Manga de Vento - mostra expandida de dança, no Teatro do Centro Cultural UFG.





Com o interesse em captar os movimentos de expansão e transformação da linguagem da dança, suas interfaces e experimentações conceituais e formais. Manga de vento surge como um programa continuado de ações e apresentações, direcionado para a difusão de pesquisas criativas, investigações que avançam e oxigenam os limiares da arte do movimento.

Sob coordenação do artista e pesquisador Kleber Damaso, a mostra é a realizada através do Fundo Estadual de Cultura e da Lei Goyazes de Incentivo. Mangas de vento são indicadores visuais que auxiliam na observação e análise da orientação eólica - fonte renovável de energia cinética, metáfora do fluxo e do deslocamento. eixo curatorial e conceitual do projeto, mas do que determinar e legitimar tendências, aposta na sensibilidade de captar o sentido do movimento como potencia cinética, capaz de irromper e alargar os modos de fazer e compreender a dança.

A vontade/responsabilidade de dinamizar o cenário local é um dos principais motivos para investir na realização dessa mostra. Pela sua capacidade de alargar as possibilidades do fazer e da compreensão, de aproximar diferentes modos de produção, de proporcionar o espaço adequado e necessário para cumprir o ciclo vital de uma produção artística, nas etapas de circulação, difusão, recepção pública.

O conjunto de ações cuidadosamente escolhido para compor a Mostra será espaçadamente distribuído ao longo de um ano, entre setembro de 2014 e setembro de 2015. Entre os artistas convidados que irão compor a programação estão confirmados Denise Stutz (RJ), Dudude hermann (MG), a coreógrafa portuguesa Vera Mantero e bailarino carioca radicado em Zurique, André Masseno. André apresenta a próxima atração da mostra, prevista para segunda semana de outubro. O bailarino trará a performance “O Confete da Índia”, inspirado na abordagem corporal do desbunde, contemplado pelo Prêmio APCA de melhor projeto artístico de Dança em 2013 e eleito pela folha de São Paulo como um dos melhores espetáculos de 2013.

Para Kleber, a duração é uma maneira de proporcionar uma programação continuada de ações, para que o público possa acompanhar e se organizar com maior antecedência e para que o artista convidado estabeleça um contato mais intenso e diversificado com os artistas da cidade. Outra característica que diferencia a concepção da mostra Manga de Vento é a criação de um circuito de difusão e apreciação abarcando as cidades de Goiânia, Pirenópolis e Cidade de Goiás. Esse circuito é fruto do esforço de interlocução e parcerias precedentes, firmadas junto às Secretarias de Cultura dos respectivos municípios.

O lançamento da Mostra acontece dias 20 e 21 de setembro, às 20hs no Centro Cultural UFG com a apresentação de dois espetáculos inéditos na cidade, ambos contemplados com Prêmio Funarte Klauss Vianna de Dança 2013.
O espetáculo solo da pernambucana Adriana Carneiro Mundo ao Redor reflete sobre a relação do indivíduo em seu Umwelt (conceito de ambiente) a partir de interações multimiáticas. “Umwelt” é uma palavra em alemão que não tem um significado correspondente em português. A bailarina e coreógrafa Adriana Carneiro define o termo como um conceito que “revela o ser humano e tudo o que há no seu entorno”. É em cima deste tema que Adriana cria seu mais novo solo, “Mundo ao Redor”. O projeto, que ganhou prêmio de fomento às Artes Cênicas, da Prefeitura do Recife, chega em Goiânia através do Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2013.

O espetáculo é um solo de dança contemporânea que conta com interação midiática. Na primeira etapa do projeto, Adriana foi às ruas para gravar cenas do cotidiano de pessoas comuns. “Com esse material, fizemos a edição das imagens e desenvolvemos um software livre que será usado durante a apresentação”, diz. A montagem conta com a participação do VJ Jeraman (Jerônimo Barbosa), que agrega recursos tecnológicos à performance.

Adriana, que tem formação em dança moderna e pedagogia para dança moderna no Conservatório da Cidade de Viena (Konservatorium Wien Privatuniversität), na Áustria, aposta no experimentalismo ao promover a interação entre dança e tecnologia. “Em Viena montei a companhia TanzTheater Luz, que atuava bastante neste campo de dança midiática.” Dentro deste tema, a coreógrafa participou ainda da 8° Bienal de Música e Teatro Contemporâneo de Munique sob a co-direção do ZKM - Centro de Artes Moderna e Tecnologia de Karlsruhe/Alemanha. Em 2007 fez parte do Núcleo de Coreógrafos do Centro de Pesquisa das Artes Cênicas Apolo-Hermilo, onde foi contemplada com a produção coreográfica "Clarice" no projeto O Solo do Outro. Em maio do ano seguinte, estreou o trabalho solo “Estação”, baseado em Pesquisa de Movimento para Estudo Coreográfico.

Em Alça de Balde, Rafael Guarato faz uso de um repertório gestual advindo das danças urbanas como popping, bboyng finger tutting. O artista investigou novos padrões de movimento a partir de lesões. A "alça de balde", no joelho direito, impulsionou o corpo urbano a outras formas de se mover, alterando a dança no corpo. O trabalho tece corporalmente reflexões acerca da trama que engendra a prática artística em tempos recentes, especificamente, a ambivalência crise / estabilidade inerente ao campo das artes.

A alegoria "Alça de Balde" é utilizada para tratar de ambiguidades historicamente forjadas pelo fazer artístico, tendo a modernidade como suporte em que emergiu a possibilidade de reivindicação de seu status como campo específico de atividade humana, possuidor de regras, domínios, dinâmicas e conhecimentos peculiares, alavancando aquilo que, grosso modo, chamamos de "autonomia" .No entanto, essa autonomia é parcial, pois se centrou em aspectos estritamente estéticos, da arte como algo constituinte e constituído por crises, choques, instabilidades; ao passo que, ambiguamente, requisita estabilidade em outros campos da vida. Eis a situação do artista na contemporaneidade, ele busca se reencontrar num tempo em que seu ofício lhe solicita a crise, frente um projeto de sociedade que propõe a busca pela estabilidade. É nesse processo, como uma alça de balde, solta, mas ao mesmo tempo fixa em certos alicerces, que o discurso de manutenção, estabilidade (econômica e política) a artistas, passa a conviver com a reivindicação de instabilidade do modo de fazer. "Alça de Balde" objetiva tecer corporalmente, reflexões acerca da trama que engendra a prática artística em tempos recentes, especificamente, a ambivalência (crise/estabilidade) como inerente ao campo das artes. Nos habituamos às crises estéticas, mas não desejamos as crises políticas e econômicas; reivindicamos o respeito à instabilidade de nossas criações, mas não aceitamos as crises em outros campos de nossas vidas, gerando uma realidade em que a criação artística encontra-se alijada da vida humana como um todo, tornando a arte uma especialidade do fazer humano, que necessita ser/estar em processo de instabilidade.

Rafael Guarato é artista e pesquisador em dança, professor do Curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal de Goiás (UFG). Dedica-se às possibilidades estéticas na cena contemporânea de dança na interface com as danças de rua. É doutorando em História Cultural na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e autor do livro Dança de Rua: corpos para além do movimento (Uberlândia, EDUFU, 2008).

Ficha Técnica

MUNDO EM REDOR
Concepção, coreografia e interpretação: Adriana Carneiro
Programação de Sistema: Jerônimo Barbosa (Jeraman)
Interação de sistema de imagem, áudio e vídeo: Carolina Seabra
Iluminação: Saulo Uchôa

ALÇA DE BALDE
Concepção e interpretação: Rafael Guarato
Créditos de imagens: Marcos Ribeiro
Produção e iluminação: Sacha Witkowski
Trilha Sonora: Boards of Canada - Gyroscope e Karlheinz Stockhausen - 'Gesang der Junglinge'


SERVIÇO
LANÇAMENTO MANGA DE VENTO
Espetáculos: Mundo em Redor / Alça de Balde
Data: 20 e 21 / 09 2014. As 20hs.
Local: Centro Cultural UFG (praça Universitária).
Ingressos: R$5 (inteira) R$ 2,5 (meia). 






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