Com o interesse em captar os movimentos de expansão
e transformação da linguagem da dança, suas interfaces e experimentações
conceituais e formais. Manga de vento surge como um programa continuado de
ações e apresentações, direcionado para a difusão de pesquisas criativas,
investigações que avançam e oxigenam os limiares da arte do movimento.
Sob coordenação do artista e pesquisador Kleber
Damaso, a mostra é a realizada através do Fundo Estadual de Cultura e da Lei
Goyazes de Incentivo. Mangas de vento são indicadores visuais que auxiliam na
observação e análise da orientação eólica - fonte renovável de energia
cinética, metáfora do fluxo e do deslocamento. O eixo curatorial e conceitual do projeto, mas do que
determinar e legitimar tendências, aposta na sensibilidade de captar o sentido
do movimento como potencia cinética, capaz de irromper e alargar os modos de
fazer e compreender a dança.
A vontade/responsabilidade de dinamizar o cenário
local é um dos principais motivos para investir na realização dessa mostra.
Pela sua capacidade de alargar as possibilidades do fazer e da compreensão, de
aproximar diferentes modos de produção, de proporcionar o espaço adequado e
necessário para cumprir o ciclo vital de uma produção artística, nas etapas de
circulação, difusão, recepção pública.
O conjunto de ações cuidadosamente escolhido para
compor a Mostra será espaçadamente distribuído ao longo de um ano, entre
setembro de 2014 e setembro de 2015. Entre os artistas convidados que irão
compor a programação estão confirmados Denise Stutz (RJ), Dudude hermann (MG),
a coreógrafa portuguesa Vera Mantero e bailarino carioca radicado em Zurique,
André Masseno. André apresenta a próxima atração da mostra, prevista para
segunda semana de outubro. O bailarino trará a performance “O Confete da
Índia”, inspirado na abordagem corporal do desbunde, contemplado pelo Prêmio
APCA de melhor projeto artístico de Dança em 2013 e eleito pela folha de São
Paulo como um dos melhores espetáculos de 2013.
Para Kleber, a duração é uma maneira de
proporcionar uma programação continuada de ações, para que o público possa
acompanhar e se organizar com maior antecedência e para que o artista convidado
estabeleça um contato mais intenso e diversificado com os artistas da cidade. Outra característica que diferencia a
concepção da mostra Manga de Vento é a criação de um circuito de difusão e apreciação abarcando as
cidades de Goiânia, Pirenópolis e Cidade de Goiás. Esse circuito é fruto do
esforço de interlocução e parcerias precedentes, firmadas junto às Secretarias
de Cultura dos respectivos municípios.
O lançamento da Mostra acontece dias 20 e 21 de
setembro, às 20hs no Centro Cultural UFG com a apresentação de dois espetáculos
inéditos na cidade, ambos contemplados com Prêmio Funarte Klauss Vianna de
Dança 2013.
O espetáculo solo da pernambucana Adriana Carneiro
Mundo ao Redor reflete sobre a relação do indivíduo em seu Umwelt (conceito de
ambiente) a partir de interações multimiáticas. “Umwelt” é uma palavra em alemão que
não tem um significado correspondente em português. A bailarina e coreógrafa
Adriana Carneiro define o termo como um conceito que “revela o ser humano e
tudo o que há no seu entorno”. É em cima deste tema que Adriana cria seu mais
novo solo, “Mundo ao Redor”. O projeto, que ganhou prêmio de fomento às Artes
Cênicas, da Prefeitura do Recife, chega em Goiânia através do Prêmio Funarte de
Dança Klauss Vianna 2013.
O espetáculo é um solo de dança contemporânea que
conta com interação midiática. Na primeira etapa do projeto, Adriana foi às
ruas para gravar cenas do cotidiano de pessoas comuns. “Com esse material,
fizemos a edição das imagens e desenvolvemos um software livre que será usado
durante a apresentação”, diz. A montagem conta com a participação do VJ Jeraman
(Jerônimo Barbosa), que agrega recursos tecnológicos à performance.
Adriana, que tem formação em dança moderna e
pedagogia para dança moderna no Conservatório da Cidade de Viena
(Konservatorium Wien Privatuniversität), na Áustria, aposta no experimentalismo
ao promover a interação entre dança e tecnologia. “Em Viena montei a companhia
TanzTheater Luz, que atuava bastante neste campo de dança midiática.” Dentro
deste tema, a coreógrafa participou ainda da 8° Bienal de Música e Teatro
Contemporâneo de Munique sob a co-direção do ZKM - Centro de Artes Moderna e
Tecnologia de Karlsruhe/Alemanha. Em 2007 fez parte do Núcleo de Coreógrafos do
Centro de Pesquisa das Artes Cênicas Apolo-Hermilo, onde foi contemplada com a
produção coreográfica "Clarice" no projeto O Solo do Outro. Em maio
do ano seguinte, estreou o trabalho solo “Estação”, baseado em Pesquisa de
Movimento para Estudo Coreográfico.
Em Alça de Balde, Rafael
Guarato faz uso de um repertório gestual advindo das danças urbanas como popping,
bboyng e finger tutting. O artista investigou novos
padrões de movimento a partir de lesões. A "alça de balde", no joelho
direito, impulsionou o corpo urbano a outras formas de se mover, alterando a
dança no corpo. O trabalho tece corporalmente reflexões acerca da trama que
engendra a prática artística em tempos recentes, especificamente, a
ambivalência crise / estabilidade inerente ao campo das artes.
A alegoria "Alça de Balde" é utilizada
para tratar de ambiguidades historicamente forjadas pelo fazer artístico, tendo
a modernidade como suporte em que emergiu a possibilidade de reivindicação de
seu status como campo específico de atividade humana, possuidor de regras,
domínios, dinâmicas e conhecimentos peculiares, alavancando aquilo que, grosso
modo, chamamos de "autonomia" .No entanto, essa autonomia é parcial,
pois se centrou em aspectos estritamente estéticos, da arte como algo
constituinte e constituído por crises, choques, instabilidades; ao passo que, ambiguamente,
requisita estabilidade em outros campos da vida. Eis a situação do artista na
contemporaneidade, ele busca se reencontrar num tempo em que seu ofício lhe
solicita a crise, frente um projeto de sociedade que propõe a busca pela
estabilidade. É nesse processo, como uma alça de balde, solta, mas
ao mesmo tempo fixa em certos alicerces, que o discurso de manutenção,
estabilidade (econômica e política) a artistas, passa a conviver com a
reivindicação de instabilidade do modo de fazer. "Alça de Balde"
objetiva tecer corporalmente, reflexões acerca da trama que engendra a prática
artística em tempos recentes, especificamente, a ambivalência
(crise/estabilidade) como inerente ao campo das artes. Nos habituamos às crises
estéticas, mas não desejamos as crises políticas e econômicas; reivindicamos o
respeito à instabilidade de nossas criações, mas não aceitamos as crises em
outros campos de nossas vidas, gerando uma realidade em que a criação artística
encontra-se alijada da vida humana como um todo, tornando a arte uma
especialidade do fazer humano, que necessita ser/estar em processo de
instabilidade.
Rafael Guarato é artista e pesquisador em dança, professor
do Curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Dedica-se às possibilidades estéticas na cena contemporânea de dança na
interface com as danças de rua. É doutorando em História Cultural na
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e autor do livro Dança de
Rua: corpos para além do movimento (Uberlândia, EDUFU, 2008).
Ficha Técnica
MUNDO EM REDOR
Concepção, coreografia e interpretação: Adriana
Carneiro
Programação de Sistema: Jerônimo Barbosa (Jeraman)
Interação de sistema de imagem, áudio e vídeo:
Carolina Seabra
Iluminação: Saulo Uchôa
ALÇA DE BALDE
Concepção e interpretação: Rafael Guarato
Créditos de imagens: Marcos Ribeiro
Produção e iluminação: Sacha Witkowski
Trilha Sonora: Boards of Canada - Gyroscope e
Karlheinz Stockhausen - 'Gesang der Junglinge'
SERVIÇO
LANÇAMENTO MANGA DE VENTO
Espetáculos: Mundo em Redor / Alça de Balde
Data: 20 e 21 / 09 2014. As 20hs.
Local: Centro Cultural UFG (praça Universitária).
Ingressos: R$5 (inteira) R$ 2,5 (meia).
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